Pr. Márcio Cappelli

teste-2Já ficou indignado com alegria de alguém? Sentiu-se injustiçado ao ver os que não têm o mesmo compromisso que você com a “obra do Senhor” recebendo bênçãos de Deus? Se sim, bem-vindo à vida do filho mais velho da parábola contada por Jesus (Lucas 15:25-32).

O texto diz que, depois de saber que o pai prepara uma festa para o filho mais novo que houvera regressado de uma vida de desperdício, o mais velho “enche-se de ira” (v.28). Fica indignado com a benevolência do pai em relação ao filho que havia desonrado o nome da família. Como sublinha Henri Nouwen, “ele não entra na casa e compartilha da alegria de seu pai porque sua queixa o paralisou”. Seu senso de justiça o impede de participar do banquete oferecido pelo pai.

Essa experiência de não ser capaz de participar da alegria do outro é própria de um coração ressentido. O que está por trás disso é o sentimento de que esse outro não merece como nós. Isto fica claro quando o mais velho diz ao pai: “todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos. Mas quando volta para casa esse seu filho, que esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele!” (Lc 15.29,30) No fundo, pensamos: “Eu é que deveria estar naquele lugar!”

Contudo, o escândalo da graça é justamente este, que o amor do Pai está disponível para todos!

O escritor Rubem Alves parafraseando o texto imaginou assim o fim da parábola: “Disse o filho mais moço: – Pai, peguei o dinheiro adiantado e gastei tudo. Eu sou devedor, tu és credor. Respondeu-lhe o pai: – Meu filho, eu não somo débitos. Disse o mais velho: – Pai, trabalhei duro, não recebi meus salários, não recebi minhas férias e jamais me deste um cabrito para me alegrar com os meus amigos. Eu sou credor, tu és devedor. Respondeu-lhe o pai: – Meu filho, eu não somo créditos.”

Assim é o amor do Pai. Não tem porquês!

O teólogo e historiador José Antônio Pagola, no seu belíssimo livro Jesus: uma aproximação histórica, coloca a questão de outra maneira. Relembra que os ouvintes da parábola estavam acostumados a pensar Deus de outra forma. Foram ensinados a ver Deus como recompensador dos cumpridores da lei. Por isso, provavelmente ficaram comovidos e desnorteados quando Jesus falou sobre Deus como sendo esse pai de incrível compaixão. Então, ele pergunta: “É possível que Deus seja assim? Como um pai que não guarda para si a sua herança, que respeita totalmente o comportamento dos filhos, que não anda obcecado por sua moralidade”, mas, antes, olha para eles com um amor incrível? Sim, responderia Jesus!

E nós, o que responderemos? Ficaremos presos aos esquemas da meritocracia ou celebraremos a graça?

Quando o filho mais velho termina de falar, o Pai lhe responde: “Filho, tu sempre estás comigo e tudo o que é meu é teu.” Que palavras poderosamente desconcertantes! O que temos e o que somos não é fruto somente do nosso esforço, mas da graça de Deus!

Se entendermos isso, passaremos a ver a vida com outros olhos. Deixaremos os óculos do ressentimento, da murmuração, da exigência e enxergaremos o mundo através das lentes da graça.

Está ouvindo a música?! Se eu fosse você não ficaria de fora da festa!

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