MM Eduardo Transcoveski

pensando-a-palavra-1Dias atrás, estive com minha esposa, Renata, assistindo a um dos jogos no Parque Olímpico na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, onde estavam sendo realizadas as Paralimpíadas. Este foi um dos grandes eventos que nossa cidade sediou e que, embora com alguns grandes desafios, mostrou para o mundo, mais uma vez, como os cariocas sabem receber bem os turistas.

O jogo que assisti, chamado Goalball (vide foto), é uma modalidade esportiva criada exclusivamente para pessoas cegas ou com baixa visão. Esta modalidade teve início na Alemanha, em 1946, como forma de ressocialização de ex-combatentes que haviam perdido a visão, ou parte dela, durante a II Guerra Mundial. Não querendo minimizar as dificuldades e desafios impostos pela deficiência aos atletas, o jogo é basicamente isso: fazer gols no time adversário. Durante dois tempos de 12 minutos, os dois times se revezam entre atacar, quando o fazem de pé, lançando a bola, ou defender, impedindo o gol do adversário, quando o fazem deitados à frente do seu próprio gol. Não tem como não se surpreender com a agilidade, habilidade e coragem desses atletas vendados, que dão um show de estratégias ofensivas e defensivas, arremessando uma bola que pesa 1,25 kg e alcança até 100 km/h. A bola oficial tem tamanho semelhante à de basquetebol, porém ao invés de uma câmara de ar, possui guizos dentro dela e, na parte de fora, orifícios que potencializam o barulho para que os jogadores a localizem através da audição. Por isso, o silêncio é muito importante para o bom andamento da partida. Vale a pena assistir a esse esporte emocionante e envolvente. Salvo nos momentos dos gols, quando a torcida explode em euforia, o restante do jogo tem que ser assistido em silêncio total. Assim, entre silêncio e barulho se desenvolve o clima do espetáculo.

É claro que não estou aqui para falar sobre essa modalidade paralímpica, embora fosse uma nobre tarefa. Quero refletir com vocês sobre três lições que tirei desta experiência vivida naquele ginásio. Para tanto, farei um paralelo entre as partes que compõem este jogo e a nossa vida cristã.

Primeira lição é que neste jogo o segredo do atleta é ouvir bem o barulho dos guizos que estão dentro da bola. Para impedir o gol, os jogadores precisam interceptar a bola, que é arremessada em direção a eles. Como são deficientes visuais, ouvir o traçado da bola é fundamental. É como se ela falasse: estou aqui, estou ali, venham a mim! Não é assim na nossa vida cristã? Alguém está constantemente fazendo barulho, como os guizos da bola, chamando nossa atenção para Ele. Deus quer que nós o ouçamos durante todo o jogo. Assim como a bola no Goalball, considero Deus o protagonista no jogo da vida. Pode parecer que nós, os atletas, somos o alvo do espetáculo, mas não somos. O centro do espetáculo que leva a torcida às alturas é a bola. Se não encontrarmos Deus neste jogo da vida, não seremos vitoriosos. Nossa salvação é Deus querer ser encontrado! Ele não está escondido, ao contrário, Ele nos procura.

“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura”.- João 4:23.
Nessa modalidade, a da vida, o sucesso da partida está em encontrar Jesus, assim como os atletas de Goalball precisam encontrar a bola. Mais um ensino de vida eu tirei no jogo.

A segunda lição é encontrada na atitude ou estratégia dos jogadores. Quase todo o tempo estão em silêncio, extremamente concentrados. Se não fosse assim, seria impossível ouvir a bola viajando pela quadra em direção a eles. Como a tarefa é segurá-la antes de ela chegar ao gol atrás deles, os três atletas precisam se concentrar no barulho dos guizos. Como você leu anteriormente, às vezes a bola viaja a uma velocidade perto de 100 km/h. Parece uma tarefa impossível, mas não se surpreenda, pois alguns atletas são capazes de ouvir o barulho e se lançar ao nada na certeza de que se encontrarão com a bola em algum lugar. É assim que eles evitam o gol do adversário. Essa disposição deveria também ser a nossa na vida cristã. Deveríamos, mesmo na agitação total do jogo da vida, focar todas as nossas atenções em Deus, pois Ele está vindo em nossa direção. Precisamos ouvi-lo, antes de todos os outros sons. Isso nos encoraja a nos lançarmos no espaço, sem reservas, na certeza de que O encontraremos em algum lugar.

“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Hebreus 11:6

Por fim, a terceira lição que tirei desta partida a encontrei no chão da quadra. Visualmente as marcações brancas no piso verde serviam de apoio só para os técnicos e torcedores, é claro. Já para os atletas, sentir as marcações através do tato é que permitia que se localizassem em quadra. Durante toda a partida vi os esportistas colocando as mãos sobre o piso à procura dessas marcas e, estando no lugar certo, um jogador cobria o outro. Para evitar o sucesso do time adversário, os atletas deitados precisariam cobrir toda a extensão do enorme gol, e isso só seria possível se cada um estivesse no seu lugar. O bom resultado do time depende da tarefa de cada esportista. Isso parece óbvio, mas foi nesta modalidade, com deficientes visuais na quadra, que pude perceber o quanto é importante que cada um realize a sua tarefa em um lugar especifico. Na vida cristã o mesmo ensinamento é válido, pois entendemos que Deus dá dons específicos a cada um de nós para que o adoremos, para que anunciemos a Sua graça e para que sirvamos ao corpo de Cristo – Igreja. Essa é nossa estratégia de jogo.

“E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres.” – Efésios 4:11.

Quando um jogador falha, não realizando a sua tarefa ou entrando no espaço que compete ao outro jogar, o propósito máximo do jogo está em perigo. É claro que, em alguns momentos, eu vi jogadores se chocando e permitindo que a bola adversária fosse em direção ao gol, mas, rapidamente, com a ajuda do técnico, os esportistas se organizavam novamente na quadra para continuar a partida em busca da vitória. Era o técnico, que não era cego, que os posicionava novamente.

Como é tranquilizante saber que temos um Técnico que sabe das nossas qualidades, pois foi Ele mesmo que as implantou em nós e que as veem aperfeiçoando. É Deus quem nos posiciona em um lugar específico no Reino – na Igreja. Nossa tarefa, assim como a dos atletas, é nos submetermos às orientações do Técnico das nossas vidas e, ao lado dos outros atletas, cumprirmos nossa carreira.

Enquanto jogamos o jogo da vida, sejamos atletas atentos a todos os detalhes que o nosso Técnico nos passar e, cumprindo nossa tarefa individual, abençoemos nossa igreja, nosso ministério e as pessoas que estão ao nosso lado. Quanto ao nosso jogo diário, diferente do Goalball – quando pode haver empate, derrota ou vitória – com Cristo, a nossa vitória já está garantida.

“Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus.” – Atos 20:24.

Eduardo Transcoveski
Ministro de Música – PIBRJ

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