Pr. André Decotelli

foto-crianc%cc%a7aNeste dia das crianças, em que as presenteamos e nos lembramos delas de forma especial, quero trazer uma reflexão sobre o melhor presente que podemos lhes oferecer: a salvação. Para tanto, precisamos pregar o evangelho a elas. E uma pergunta surge logo de início quando pensamos na relevância e na necessidade de pregarmos para crianças. Será que elas já têm capacidade para entender a mensagem salvadora do evangelho de Cristo? Como falar de pecado, regeneração, justificação e salvação, conceitos muitas vezes tão abstratos, para pessoas que há poucos saíram das fraldas? As respostas para tal questionamento vemos no próprio Jesus.

No fim de sua vida terrena, já após ter ressuscitado, Jesus disse que o evangelho deveria ser pregado para toda criatura. Eis a grande comissão do Ide evangélico. Naturalmente contidos nesse grupo de criaturas se encontram as crianças. Ao englobar toda criatura, certamente Jesus pensava no grupo de seres humanos, sejam eles gregos ou judeus, livres ou escravos, homens ou mulheres, e por que não, crianças ou adultos?
Após esta inicial constatação, encontramos as bases da nossa missão junto aos pequeninos. Desde a mais tenra idade, até o fim da infância, é fundamental que elas sejam alcançadas pela pregação do evangelho.

Talvez seja necessário aqui dar uma retrocedida, pois é provável que você esteja se perguntando, “mas por que essa problematização em torno do óbvio? É claro que precisamos pregar para crianças, aliás, enquanto igreja evangélica brasileira temos feito isso há décadas!”

Infelizmente, a despeito da pregação ostensiva para crianças em nossas igrejas, ainda observamos uma lógica perversa por trás dessa prática: a ideia que eu chamo de “evangelização bolsa de valores”. Entendemos as crianças em uma igreja como investimentos no futuro. Se aplicadas ali os valores corretos, no futuro haverá um retorno. Não que tal concepção seja totalmente equivocada, no entanto, é incompleta. Vamos a algumas considerações bíblicas que corroboram nossa tese.

O texto bíblico geralmente utilizado como legitimador desta concepção de “investimento” na criança é o de Provérbios 22:6, que diz: “Ensina a criança no que caminho em que ela deve andar e até quando envelhecer, não se desviará dele”. Em nome de uma perspectiva reducionista, vemos por trás do discurso em prol do ministério infantil a ideia de que uma vez investida a pregação às crianças, elas serão o futuro da igreja, jamais se desviarão do caminho. Obviamente, com essa mentalidade, algo que será o futuro, nunca terá seu pleno lugar no presente. Ao meu entendimento, há um ponto de vista que o texto de Provérbios enfoca e não damos o devido destaque, a saber, o fato de que o que deve-se ensinar a criança HOJE é o caminho, uma vez que ela pode naturalmente aprender outros caminhos. Acredito não ser necessário enfatizar o caráter de “esponja” da criança, que aprende facilmente imitando aos demais. Em face desta realidade, urge ensinarmos hoje para elas o caminho e de forma consequente, mas não prioritária, ela não se desviará dele. O texto fala do hoje, da necessidade preemente de se ensinar um caminho bom desde a infância, já que é ali que se encontram as bases da personalidade e caráter humanos. No contexto sapiencial do texto, qual é o caminho, senão a lei de Deus, que sustentaria toda a moral do homem daquele tempo?

Hoje sabemos que o caminho é Cristo, como o próprio se intitulou no evangelho segundo João (14:6). É o ensinamento e a vida humilde e amorosa de Cristo que devemos pregar para as crianças. O mesmo pede que não impeçamos elas de irem a ele, e mais ainda, as coloca como as maiores do seu Reino, um reino as avessas, um reino de crianças, onde o “lobo moraria com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá.” (Isaías 11:6).

Pregar às crianças é não impedi-las de ir a Cristo. E mais do que não impedi-las, é atrai-las ao seu Salvador. Atrair crianças a Cristo não pode ser como um fundo de investimentos, em que no tempo futuro certo, renderá o fruto desejado. A criança não é a igreja do amanhã. Ela é a igreja do hoje! A criança deve hoje, enquanto há tempo, ser apresentada ao Senhor manso e humilde de coração e ao seu caminho de vida abundante, de justiça, paz e misericórdia.

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