Pr. João Soares da Fonseca

Manoel de Souza contou-me que tinha 32 anos e levava vida difícil no Rio de Janeiro de 1951. Recém-casado, era fundidor numa metalúrgica, perto da Central do Brasil.  O patrão, um cearense incrédulo, tinha três preconceitos na vida: não gostava de negros, detestava fãs de futebol e morria de raiva de empregado sindicalizado. Manoel de Souza tinha esses três “defeitos”.

Manoel irritara o patrão ainda mais ao ganhar dele quatro causas na Justiça do Trabalho. A situação, já de si insustentável, só precisava de um último estímulo para explodir em tragédia. A gota d’água foi a ameaça de demissão. Manoel seria despedido.

Conjugando o verbo vingar em todos os tempos e modos, Manoel deixou-se arrastar pela correnteza do ódio. E concluiu: “Vou matá-lo”. Era só o tempo de preparar a barra de ferro com a qual lhe esmagaria o crânio. Tudo planejado com sigilo e temperado a ódio.

Faltavam só dois dias para Manoel cumprir o seu cronograma diabólico. Na sua cabeça, estava tudo certo. Não tinha outra escolha.

Eis que entra Jesus na história, porém.

Um grupo de irmãos fiéis, que fazia cultos na Estação Dom Pedro II, estava ali como sempre. Sem saber como e por quê, Manoel se viu parado junto à pequena multidão, e ali ficou, ouvindo a Palavra de Deus.

O pregador desse dia, segundo uma testemunha ocular, era um leigo de nenhuma oratória. Com muita dificuldade, leu o texto em Êxodo 20.13: “Não matarás”. E não sabendo desenvolver o argumento, repetia “Não matarás”; fazia uma pausa, pensava e, como nada de diferente lhe ocorresse, dizia de novo: “Não matarás”. E foi praticamente assim até devolver a palavra ao dirigente. Do ponto de vista homilético, o fracasso desse pregador foi absoluto. Mas foi o suficiente para que o Espírito Santo convencesse Manoel a não matar o patrão. Converteu-se, foi batizado depois na Igreja de Cascadura onde serviu ao Senhor até partir em 24/03/1997, aos 78 anos.

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