Visão do estabelecimento do Reino do Messias

(Isaías 5;8;31;33;35)

“Mas o Senhor ali nos será grandioso, fará as vezes de rios e correntes largas; barco nenhum de remo passará por eles; navio grande por eles não navegará.”

(Isaías 33.22)

A mensagem do profeta Isaías é, reconhecidamente, marcada pela expectativa messiânica que está presente nos seus textos mais tardios como, também, em textos mais recentes da tradição do profeta. De forma específica e inovadora, o profeta Isaías constrói a sua mensagem usando uma fórmula que, posteriormente, se constituiu como elemento identitário da sua atuação profética. São os “ais de Isaías”.

O primeiro “ai” é contra a ganância dos que usurpam casas e campos dos mais necessitados; o segundo condena a corrupção social; o terceiro é contra os que desprezam o projeto salvífico de Javé; o quarto condena o orgulho e a corrupção moral daqueles que tem o poder de decisão (juízes); o quinto é contra a arrogância dos líderes de Judá que desprezam os conselhos do Senhor e o sexto condena os que se enveredam pelo caminho dos beberrões, constituindo-se uma zombaria contra Deus e a sua palavra.

Essa mesma fórmula dos “ais” apresentada por Isaías é retomada posteriormente pelo profeta Habacuque dentro do contexto pós-exílio (Hc 2.6-20). A fórmula dos “ais” constitui a expressão plena da advertência de Deus contra o pecado e a conduta desviada do povo hebreu em relação à vontade de Deus, o que resultaria no castigo eminente, mas que em alguma medida também demonstraria a referência de conduta esperada por Deus no tocante a seu povo, e como esses mesmos “ais” atravessaram os tempos e chegaram até nós como horizonte de conduta, tendo a palavra de Deus como nossa referência moral e ética nas questões do cotidiano.

O tema central da exortação profética está na dependência plena do Senhor (Is.31.1). Esse texto apresenta uma relação muito estreita com o salmo de Davi, que 300 anos antes também estabelecia a mesma relação de confiança em Deus, fazendo um contraponto aos que confiavam em artifícios bélicos e na estrutura humana para alcançar a vitória diante das guerras. O princípio, que norteava a vida do salmista e que agora é uma referência para o profeta, é a necessidade da total dependência de Deus.

Os recursos que estão em nossas mãos são meros instrumentos do agir de Deus e canal pelo qual Ele faz prevalecer a sua vontade e o seu poder (Ex 4.2). A nossa confiança não está nas coisas ou circunstâncias, mas na inconfundível confiança no Senhor que somente aqueles que tiveram uma experiência com Ele conseguem compreender. A promessa de Deus sobre nós é que seremos eternamente objeto do seu cuidado, zelo e amor (Is 31.5).

O profeta Isaías estabelece o parâmetro para que os reinos, governantes, juízes e todos que exercem autoridade sobre o povo pudessem ter uma referência de conduta. Todas as reprovações nos “ais” proféticos estão solucionadas na promessa de um reino da graça do Senhor, um reino de justiça plena, em que o Senhor reinará com poder e grande glória. Enquanto não se concretiza de forma definitiva, podemos vivenciá-lo em certa medida já em nossos dias como uma forma de demonstração daquilo que nos espera na glorificação.

A ideia de reino presente no texto remonta às expectativas vividas pelo povo hebreu quase 500 anos antes, ainda no período da instauração da monarquia em Israel. O povo queria um rei para julgá-los, mesmo após Samuel advertir o povo como ordenara o Senhor em relação à forma como eles seriam tratados por um rei (1Sm 8.19,20). O Senhor falou a Samuel naquela época, e cinco séculos depois, fala novamente pelo profeta Isaías de que Ele, o Senhor, é o justo juiz; é quem pode reinar sobre Israel; é quem pode livrá-los e salvá-los dos inimigos.

A lição que aprendemos com o profeta Isaías é de que Deus é suficiente em nossa vida e que o reino que está preparado para nós é eterno, tendo o Senhor como rei. Não importa o cenário de limitação em que vivemos, pois o Senhor prepara o seu povo para um reino de justiça e a todos convida (Is 35.3,4). Confiados nessas promessas, descansemos no Senhor.

 

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