Pr. João Soares da Fonseca

Na região comercial de Cascadura, aqui no Rio, havia uma antiga relojoaria. As paredes eram revestidas de espelhos, e os relógios ficavam guardados em cristaleiras. Era coisa bonita de se ver.     O mais interessante, porém, era conversar com o dono da relojoaria. Judeu, o idoso senhor Israel era extremamente polido, embora gostasse de uma prosa demorada. Por causa disso, de vez em quando, mesmo sem relógio quebrado em casa, eu passava na relojoaria para cumprimentá-lo e aprender um pouco de quem havia sofrido na pele as estocadas do Holocausto. O cardápio da conversa era variado; incluía tópicos da política nacional. Vivíamos ainda os dias nervosos de uma inflação desembestada. Os sucessivos planos econômicos frustravam expectativas. Seu Israel, como comerciante, lamentava a dificuldade de se planejar orçamentos. Ninguém sabia o preço de nada, porque os preços mudavam todo dia, o dia todo. Nos supermercados, ouvia-se o constante matraquear das maquininhas remarcando os preços.

Certo dia, Seu Israel estava inspirado: “É uma pena que este País tão rico tenha um povo tão pobre! Sabe o que falta aqui?” Espremi os olhos pra ouvir melhor: “Falta a esta terra um patriota, um homem que ame de verdade este povo; que coloque o bem-estar do povo em primeiro lugar. Mas só dá ladrão!!!”

Nesse dia, saí da relojoaria do judeu Israel pensando no Brasil como sendo um grande relógio, que infelizmente só vive atrasado e, pior, atrasando a vida do seu povo. Um relógio assim precisa urgentemente dos serviços de um relojoeiro competente. Há engrenagens que um patriota pode consertar. Outras há, porém, a que apenas o Supremo Relojoeiro pode dar jeito.

Em tempos de engrenagens emperradas, lembremos as palavras do salmista: “Bem-aventurado o povo que conhece o som festivo, que anda, ó Senhor, na luz da tua face, que se regozija em teu nome todo o dia, e na tua justiça é exaltado” (Salmo 89.15,16).

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