Pr. João Soares da Fonseca

Antes de Salvar o Brasil

Um nosso famoso escritor, em apreciada crônica dominical, escreveu certa vez:

“Não me esqueço de uma festinha a que fui, faz muitos anos. O dono da casa era sogro de um amigo meu e nos conhecemos nessa noite.

Bem-falante, articulado e espirituoso, iniciou, quando soube que eu era jornalista, uma longa palestra sobre a desonestidade do brasileiro.

Com toda a certeza a razão principal era que descendíamos do que de pior havia em Portugal, degredados, criminosos de toda espécie, a escória mesmo. Daí estar no sangue a desonestidade do brasileiro, políticos e autoridades eram de enojar, de causar asco invencível. Ele, em sua longa carreira de funcionário da alfândega (ou coisa semelhante, foi mesmo há muito tempo e não lembro direito), já tinha visto de tudo, não acreditava em mais nada, o brasileiro era preguiçoso, lerdo, descarado e ladrão, a verdade era essa.

“Isso se passava numa casa muito ampla e confortável, entre doses generosas de uísque escocês e outras bebidas estrangeiras, com fundo musical saindo de um esplêndido aparelho americano. Num dos intervalos da palestra, o genro dele e meu amigo comentou que, bebendo daquele uísque, estávamos a salvo de falsificações, era tudo legítimo, apreendido como contrabando. Isso mesmo. Aquele Catão cuja voz tornava a reverberar de indignação moral contra gatunos e corruptos estava servindo uísque contrabandeado, ouvindo uma eletrola (naquela época, aparelho de som se chamava assim) contrabandeada, numa casa que seu salário não permitiria etc. etc. Naquela época, ainda muito jovem, achei que ele era exceção, mas um diabinho aqui insiste em que é a regra, a qual, quanto mais vivemos, mais se comprova” (RIBEIRO, João Ubaldo. Somos todos ladrões? O Globo, Domingo, 21-12-2008).

É uma contradição hipócrita cobrar correção dos políticos, quando sabemos que muitos patrícios nossos, se estivessem no lugar deles, talvez fizessem a mesma coisa.

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