Pr. João Soares da Fonseca

A Fatalidade da Vitória-régia

Uma das maravilhas da flora amazônica chama-se vitória-régia. Com cerca de dois metros de diâmetro, ela encanta pela originalidade de suas formas. Os índios da Amazônia tentam explicar o surgimento dessa planta com uma lenda, registrada por vários autores:

Havia em certa aldeia indígena uma bela adolescente chamada Naiá. O povo a que ela pertencia achava que a lua era um jovem bonito e poderoso, um guerreiro imbatível. Achava ainda que as estrelas eram resultado do casamento das índias virgens com esse moço.

Naiá se apaixonou pela lua e a partir daí passou a recusar todas as propostas de casamento que lhe faziam os rapazes da aldeia. Em sua paixão, ia cada noite à floresta e ali ficava contemplando a lua, em extática e demorada admiração. Por vezes, a indiazinha apaixonada saía correndo pelos vales e pelas montanhas, tentando alcançar a lua, de braços erguidos, louca de amor. Mas, é claro, a lua estava sempre mais e mais distante e indiferente. Naiá, por fim, desistiu de encontrar o seu guerreiro e começou a definhar de tristeza.

Certa noite, porém, quando a lua exibia no céu o seu espetáculo de luz, Naiá chegou à beira de um grande lago. Dentro dele, bem lá no fundo, ela viu o objeto da sua paixão. Radiante, Naiá não teve dúvida. O moço de prata, o guerreiro invencível, noivo das virgens, lá estava, do fundo das águas acenando para a sua felicidade. Era uma oportunidade que ela não podia desperdiçar. Jogou-se ao lago, rumo ao fundo, para se encontrar definitivamente com o seu amor. E desapareceu para sempre nas águas turvas da sua ilusão.

A lua, do seu posto no céu observando essa tragédia, rompeu com a sua indiferença e resolveu recompensar a indiazinha: transformou-lhe o corpo numa flor diferente, imensa e bela: a vitória-régia, a estrela das águas.

Neste mundo, sempre haverá quem se agarre a uma ilusão, esquecendo, porém, que o preço cobrado é alto demais.

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