Pr. João Soares da Fonseca

Afeto Catalisador

Há alguns anos, fui visitar um irmão que estava internado no Hospital Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro. Aproveitei a oportunidade para realizar um antigo desejo: visitar o chamado Museu de Imagens do Inconsciente, que funciona no local. Trata-se de uma das mais bem sucedidas experiências da história da psiquiatria, elogiada além-fronteiras.

Tudo começou em 1946 com uma médica, Dra. Nise da Silveira, que, inconformada com a desumanidade do tratamento tradicional, resolveu inovar. A lógica que a norteou foi a seguinte: Se a linguagem verbal do esquizofrênico não faz sentido, é preciso tentar outras linguagens, como a pintura, o artesanato, a dança, o teatro etc.

Seu mais famoso paciente chamava-se Fernando Diniz. No princípio, os desenhos de Diniz são um mero amontoado de riscos arredondados. Depois, porém, emergem formas já perceptíveis. Um detalhe é que a certa altura do processo terapêutico, Nise percebeu que por alguma razão a presença de alguém feminino no ateliê de Diniz modificava a obra do artista/paciente. A partir daí, havia sempre alguém ao lado dele, sem falar nada, apenas ali. É o que ela chamou de afeto catalisador.

Parenteticamente podemos nos lembrar que foi exatamente isto que Deus fez no Éden ante o abatimento de Adão. Criou-lhe um afeto catalisador chamado Eva.

Os animais domésticos também têm seu lugar na terapia, como prova a história de Carlos, um interno da década de 50. Gatos e cães são chamados co-terapeutas.

E a paixão e morte do marinheiro Isaac? Ah, não vou contar. Vá você mesmo e descubra que o esquizofrênico não é um bicho; é gente que sofre, como você e eu; talvez um pouco mais do que nós. Dizem que à entrada do hospital psiquiátrico de Recife há uma inscrição: “Muitos estão aqui por pouco; muitos outros por pouco não estão aqui”.

É reconfortante saber que Jesus prometeu: “Estou convosco todos os dias…” (Mateus 28.20). Não há afeto maior!

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